Capítulo 2 - Má sorte pouca é bobagem...

Chateada.

Era assim que eu me sentia: chateada e com muito medo. Eu sentia meu coração pesado dentro do peito por ter me deixado levar por causa de um convite para uma festa idiota e uma “briguinha” sem noção com a Monique. Por causa disso tinha me esquecido de ligar para o Luan. Além disso, eu começava a considerar que a história “Maldição do Casamento” existia de verdade. Será que agora eu estava condenada a sete longos anos de azar? E se estivesse, o Luan ficaria ao meu lado apesar de todas as confusões que eu sempre me metia?

Respirei fundo. Meu coração ficou ainda mais apertado dentro do peito e eu senti uma vontade enorme de chorar. Eu estava sentada em frente ao quarto da Monique, encostada no corredor do hotel, sem sapatos e com o meu laptop no colo. Eu falava com a Rafa via MSN enquanto esperava a Monique aparecer. A Rafa já tinha me passado o número do celular do Luan, mas eu ainda não tinha um telefone para ligar para ele. Eu até pensei em ir até a recepção do hotel e pedir para ligar de lá, mas descartei a hipótese. A recepção era muito movimentada, e eu precisaria de muita paz e tranquilidade para explicar tudo o que tinha acontecido ao Luan. A ideia de pedir para desbloquearem as chamadas para o meu quarto também estava fora de cogitação. O funcionário que cuidava disso estava de folga e só voltaria na manhã seguinte.

Ou seja, a minha única chance era usar o celular ou o telefone do quarto da Monique. Mas a minha secretária havia sumido sem deixar vestígios. Por isso eu estava ali, “plantada” no corredor, esperando por ela e desabafando minhas mágoas com a Rafa através da internet. Por sorte só havia o meu quarto e o da Moni naquele andar. A chance de alguém me ver naquele estado, ou pior, de registrar a cena, eram muito pequenas.

Para aumentar ainda mais a minha angústia, o Luan não estava online para eu falar com ele pela webcam, como sempre fazíamos quando um de nós dois viajava.

Fala sério, se o lance de “Maldição” realmente existia, ela contava com um bônus especial de “desencontros” para a maré de azar que ela causava, né?

– Rafa, eu estou com medo – Digitei na janela do MSN. A minha empresária vivia me dizendo que eu precisava aprender a usar o Skype, mas eu gostava mesmo era do bom e velho Messenger.

– Medo de quê, gata garota? – A Rafa digitou.

– Do Lú desistir de mim... Às vezes eu me acho complicada e mimada demais – Desabafei digitando com as mãos trêmulas.

Já fazia um tempo que eu vinha pensando sobre aquele assunto. Desde o começo da nossa relação era sempre o Luan que fazia algo para nos aproximar. Foi ele quem me passou o número do seu celular depois que a nossa participação no reality show acabou, ele quem foi atrás de mim na festa em Nova York, ele que foi até o meu quarto quando viajamos para gravar o clipe juntos, e também havia sido ele quem comprou a nossa casa e planejado o nosso futuro juntos de uma maneira tão linda.

Tudo o que eu havia feito pela nossa relação era complicar as coisas. Fui eu que fiquei enrolada com o contrato do filme e presa ao meu ex-namorado, eu que havia arrumado um “Playboy” para “empatar” o nosso namoro e eu que não tinha aceitado o seu pedido de casamento.

Fala sério, como o Luan ainda poderia querer ficar comigo mesmo eu só aceitando fazer as coisas do meu jeito?

– Gata garota meteórica, fica calma e lembra que o Luan te ama! Aquele caipira é “caidinho” por você, mulher! Não precisa ter medo, Any! Você está crescendo, amadurecendo... Virando uma mulher de verdade! Tenho certeza que o Luan sabe de tudo isso e que vai te esperar – Li a resposta que a Rafa havia me enviado.

Olhando para a minha situação, jogada ali no corredor, era difícil acreditar que eu realmente estava amadurecendo e virando uma mulher. Mas, se ela dizia... Preferi deixar isso de lado e me concentrar na parte que dizia que o Lú me amava e que iria me esperar. Sem querer acabei cruzando os dedos e desejando que ele realmente nunca perdesse a paciência comigo.

– Rafa, o que eu faria da minha vida sem você? – Digitei a pergunta que eu sempre repetia quando a minha empresária me ajudava a enfrentar situações complicadas.

– Any, você é a minha estrela preferida! Você não precisa de mim para brilhar, só que às vezes se esquece disso... É por isso que eu estou aqui, para manter sempre aceso esse brilho que existe em você! E não precisa agradecer, eu só faço o que qualquer amiga iria fazer no meu lugar – Vi a resposta aparecer na tela do meu computador alguns instantes depois.

Eu estava prestes a digitar que ela era muito mais que uma simples amiga. Eu estava pensando em uma maneira de dizer que na verdade ela era um anjo que entrou na minha vida para guiar o meu caminho quando fui interrompida pelo barulho do elevador.

Imediatamente olhei para o lado e vi a Monique “QueroSerFamosa.com.br” aparecer no corredor com cara de quem havia “fervido” na balada a noite inteira.

– Anita! – Ela exclamou ao se deparar com a minha situação.

Na mesma hora eu deixei o meu notebook de lado e me levantei tentando recuperar o pouco de dignidade que ainda me restava.

– Duas coisas – Falei indo direto ao assunto sem dar chances para ela puxar papo – Primeiro: Eu preciso falar com o Luan! Agora! Segundo: Dá um jeito de desbloquear o telefone do meu quarto o mais rápido possível! – Disse, curta e muito grossa. Eu estava muito nervosa com a minha secretária por ela ter sumido e me deixado na mão em um momento tão delicado como aquele.

– Any, calma! Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou com uma expressão preocupada que não me convenceu.

– Se aconteceu alguma coisa? Não, imagina! Eu só estou prestes a receber o pedido de divórcio do cara que eu nem casei ainda por causa de uma fofoca que diz que eu estava de rolo com outro cara que eu mal conheço direito – Respondi, me enrolando toda.

A Monique continuou me encarando com uma expressão de quem não tinha entendido nada. Realmente a minha explicação não havia sido muito clara, mas eu não tinha tempo para detalhes.

– Me dá logo o seu celular e depois eu te explico – Resolvi ir direto ao ponto.
A secretária continuou me olhando de uma maneira estranha, como se estivesse se segurando para não rir de mim. Mesmo assim ela pegou o seu aparelho celular que estava dentro de uma pequena bolsa que ela usava de lado e me entregou o aparelho.

Senti um pouco de raiva dela naquele momento. Se fosse a Rafa ela já estaria discando o número do Lú para mim. Resolvi ignorá-la temporariamente. Eu acertaria as minhas “contas” com ela depois. Eu tinha problemas mais graves para resolver naquele momento.

Peguei o aparelho, cacei o número do Lú nos contatos e disquei. Eu sabia da diferença de horário entre os dois países, mas, se eu não estava enganada, deveria ser terça-feira pela manhã no Brasil, horário que o Luan não costumava ter compromissos.

Enquanto eu esperava a ligação ser completada, eu peguei todas as minhas coisas e corri, completamente desajeitada, de volta para o meu quarto. Tranquei a porta, larguei os meus sapatos e o notebook em qualquer canto, e me joguei na cama.

O Luan deveria estar me esperando ligar, porque depois de alguns toques ele atendeu. Fiquei surpresa. Era raro ele atender o celular na primeira tentativa.

– Paixão? – Falei baixinho, tentando caprichar no meu tom de “garotinha inocente”.

– Oi Ní – Ele me respondeu com um tom de voz chateado. Imediatamente senti o meu coração ficar tão pequeno dentro do peito que parecia que iria desaparecer. Eu odiava ver, ou ouvir, o Luan triste.

– Amor, que e-mail foi aquele? Você está bravo comigo? – Claro que eu tinha toda a certeza que ele estava chateado. Mas a grande jogada era você nunca assumir a sua culpa de primeira.

– Ah Ní, eu fico te vendo do lado daquele cara, vocês dois cheios de intimidade... Aí não tem jeito, “Paxão”, eu fico doido de ciúmes “doce” – Ele confessou meio sem jeito. Não pude deixar de sorrir. Eu adorava quando ele sentia ciúmes de mim.

– Mas você sabe que não precisa sentir ciúmes do Rob. Ele é apenas meu amigo e eu só estava o ajudando a passar por uma fase difícil no seu relacionamento. Você lembra que eu te contei, né? Que a Kristen o traiu publicamente com um “tiozinho” sem noção... – Fui explicando a situação e aos poucos senti a tensão diminuindo entre nós – O Rob, coitado, ainda não superou esse baque. Tá mais perdido que cachorro caído da mudança depois dessa confusão que aconteceu... – Caprichei no drama para que o Luan pudesse entender que o meu parceiro de filme só pensava na sua ex.

– Sei... Ele separa da mulher e aí tem que vir dar em cima da minha – O meu namorado-barra-praticamente-marido brincou do outro lado da linha. Pelo seu tom de voz pude perceber que havia acreditado em mim. Respirei aliviada. Eu não queria brigar com ele por causa de uma fofoca sem nenhum fundamento.

– Da minha? Minha o quê, Luan? – Aproveitei a deixa para descontrair um pouco.

– Da minha “muié”, uai... Porque “pra” mim não tem essa que você não quis casar comigo. Se “tá” comigo é minha “muié” e pronto – Ele retrucou, já usando o seu famoso jeito de falar fazendo “graça” da situação.

– Mas você sabe que eu ainda vou casar com você, né? Eu só preciso de um tempo a mais para lidar com essa situação – Falei receosa. A cada dia que passava eu ficava com mais medo que ele resolvesse me largar por causa da minha recusa em aceitar o seu pedido.

– Claro que sei, “Paxão”. Só que agora eu acho que você vai ter que esperar... Segundo o André você foi almadiçoada com sete anos de azar! E não cinco e nem seis. São se-te! – Ele imitou o jeito do diretor falar fazendo piada. Até o Luan já estava começando a acreditar naquela história de maldição... Também, com a minha falta de sorte, era bem capaz que aquela supertição fosse verdadeira.

– Ah não, eu não quero lembrar dessa maldição – Falei desanimada. Para mim aquilo estava ficando real até demais.

– Oh Ní, mas é só uma supertição! Você “num” precisa ter medo. A gente sabe que você sempre foi azarada mesmo. E quanto o casamento, eu espero você, Nega. Só que “cê” sabe, né? Eu nunca mais vou te largar, então pode se preparar porque eu vou ficar velhinho ao seu lado... – Ele me respondeu em um tom brincalhão, mas que ao mesmo me convenceu que ele realmente gostava de mim. Aquilo serviu para acalmar um pouco o meu coração. Envelhecer ao lado do Luan não seria tão ruim se ele continuasse entendo os meus vícios e manias.

– Oh Paixão, você não existe! Eu tenho muita sorte de ser a namorada-barra-praticamente-mulher do cara mais perfeito desse mundo – Confessei, me derretendo toda. Eu não era muito de romantismos, mas às vezes eu abria uma exceção. - Falando em envelhecer ao seu lado, você lembra que amanhã vai fazer dois anos que a gente se beijou pela primeira vez? – Eu nunca iria me esquecer daquela noite em Nova York.

– Claro que lembro, “Paxão”! Você estava indo embora da festa sem falar comigo e eu precisei correr atrás de você...

– Mágina! Eu que fiquei te procurando a noite toda e você nada de aparecer! Já estava perdendo as esperanças quando te encontrei no carro. Quase caí para trás com o susto que eu levei... – Brinquei me esticando toda na cama. Parecia que fazia uma eternidade que eu não falava com o meu guri.

– Foi a Rafinha que “ajeitou” tudo pra gente naquela noite... Se não fosse ela eu não ia ter coragem pra chegar em você, não – O Luan confessou.

– Olha só, mas que revelação! Mas aquela noite não ia ter jeito. Você não ia escapar de mim nem que você quisesse...

– Ah, eu acredito nisso aí, viu? Quando você quer ninguém te segura, nega! – Ele disse sério me deixando sem graça.

– Então... – Fiquei sem saber o que falar por alguns segundos. O Luan sempre sabia como deixar sem fala. Do outro lado eu o ouvi rindo. Ele sabia que tinha conseguido me deixar vermelha.

– Mas, e aí? O que vamos fazer para comemorar o nosso aniversário de “Primeiro Beijo”? – O Luan emendou a pergunta me salvando daquela situação.

– Bom, eu queria comemorar mesmo era te dando mais beijos, mas acho que vai ser meio difícil – Falei um pouco triste – Que tal se a gente marcar de conversar pela webcam? Assim posso matar pelo menos um pouquinho da saudade que fico de você...

– Ah “Paxão”, “cê” sabe que eu não sou muito bom com esses “trem” de cam, né? – O Luan me lembrou com um tom de voz receoso. Realmente ele era um desastre para conseguir realizar conversas com vídeo pela web.

– Você está de folga amanhã, não está? Então, pede para a Rafa te ajudar. Ela é craque nisso – Pensei rápido em uma solução. Eu queria muito ver o meu guri, mesmo que fosse pela tela do computador.

– Boa ideia! Já vou combinar tudo com ela, então... – Ele respondeu, já bem mais animado.

– Ótimo, vou ver o horário que estarei livre e a gente combina tudo por e-mail. Agora eu preciso desligar,
Paixão. Estou usando o celular da Monique. Eu esqueci o carregador do meu e fiquei sem bateria. Será que você pedir para a Rafinha me enviar o carregador por correio com urgência?

– Claro, amore. Peço sim! Vai lá, descansa bastante e tenha um bom dia de trabalho amanhã. E juízo, hein? Nada de ficar conversando “pertinho” daquele jeito com esse Rob aí – Ouvi o meu namorado-barra-praticamente-marido falar do outro lado da linha.

– Relaxa, meu amor. Você não tem motivos para sentir ciúmes. Boa noite, descansa também. Você anda trabalhando demais. Beijo – Respondi, tentando tranquilizá-lo. Eu queria dizer mais, falar sobre o tamanho do meu amor por ele e o medo que eu tinha de perdê-lo, mas eu realmente era péssima para declarações de amor. Acabei encerrando a conversa por ali mesmo.

– Fica com Deus, Ní. Beijo.

– Outro Lú.

Ouvi o sinal que dizia que a chamada já havia sido finalizada. Fiquei um momento encarando o teto, ainda deitada na cama, pensando no Luan. Seria difícil ficar dois meses longe dele. Principalmente se ele continuasse sentindo ciúmes do Rob...

Pensar no meu colega de filme me fez lembrar da notícia que foi publicada no site de fofocas. Como aquela foto tinha ido parar na internet? Não tinha nenhum paparazzi na festa, o pessoal da produção havia nos garantido isso.

Ainda pensando nisso, levantei da cama e, muito relutante, fui devolver o celular para a Monique. Sai do meu quarto, cruzei o corredor e bati na porta da minha secretária. Instantes depois ela me atendeu.

– Oi Any – Ela disse com a voz mansa.

– Seu celular – Estendi o aparelho para ela – Monique, não se esqueça de desbloquear as chamadas para o meu quarto. – Disse tentando parecer um pouco mais cordial do que eu havia sido antes.

– Tudo bem, Any. A Rafa me mandou um e-mail com o link do site que publicou uma foto sua ao lado do Robert hoje. O assunto está bombando nas redes sociais. Já tem até hashtag no Twitter. Imagino o quê o Luan ficou pensando disso tudo... – Ela comentou tentando parecer solidária.

De repente eu lembrei porque eu estava tão nervosa com a Monique. Era porque ela sempre fazia aquilo: Sumia quando eu mais precisava dela e depois vinha com o “papinho” de “Nossa, imagino como deve ter sido complicado para você...”. Mas dessa vez aquilo não iria ficar assim.

– O Luan sabe bem que tudo isso não passa de boato, assim como todos os últimos que andaram espalhando da gente por aí. Mas sabe que eu ando ficando bem cansada disso tudo? Nessas horas eu queria poder contar com os meus amigos de verdade, com aquelas pessoas que estão do meu lado, me apoiando. O Lú sempre está do meu lado. A Rafa também... Até o André e a Ana Júlia tem me dado muito apoio nesses últimos tempos. Eles são um ótimo exemplo de companheirismo, sabe? Sempre estão comigo, em todos os momentos, logo que as piores coisas acontecem... Gosto de pessoas assim – Aproveitei a deixa para dar uma indireta para a minha secretária. Se ela fosse esperta, com certeza ela iria entender.

– Hããã, sei como é, Any. Mas você também sempre pode contar comigo para te ajudar nesses momentos, viu? – Ela mexeu nos cabelos sem graça. Sinal que havia captado a mensagem direitinho.

– Espero poder contar mesmo... – Respondi, simplesmente – Agora eu vou dormir. Preciso estar pronta para os ensaios amanhã. Boa noite – Falei, não dando chance da Monique dizer mais nada.

Cheguei no quarto e me joguei embaixo do chuveiro para deixar a água lavar todas as más sensações daquele dia. Despedidas, desencontros, fofocas... Era muitas vibrações ruins para uma pessoa só. Eu me perguntava até quando eu conseguiria ser forte para suportar tudo aquilo...

***
Acordei no dia seguinte cansada. Era estranho pensar daquele jeito, mas eu me sentia exausta por toda a carga emocional que eu vinha carregando nos últimos tempos. Era o medo de perder o Luan, os novos desafios na carreira, todas as fofocas que estavam surgindo na mídia, a gravidez complicada da Rafa, a saudade de casa, a sombra da “maldição”... Aquilo já estava virando uma bola de neve e ameaçava passar por cima de mim e me “esmagar” a qualquer momento.

Cheguei no estúdio onde aconteceriam os ensaios cinco minutos atrasada. A Monique estava comigo. Ela havia acordado com um ótimo humor e querendo ser muito prestativa. Será que esse comportamento tinha alguma a ver com a “bronquinha” que eu dei nela na noite passada?

– Bom dia! Bom dia pessoal! – Um Robert muito bem disposto entrou no estúdio. Reparei que a Monique quase babou ao vê-lo.

Fala sério, tá certo que ele era bonito, mas era bom disfarçar de vez em quando, né?

– Bom dia! Que bom que vocês já chegou, Rob. Vamos lá, então? Quero passar o texto com vocês hoje, discutir algumas cenas, passar orientações... Temos muito trabalho pela frente! – A Katherine, diretora do filme, nos chamou.

Passamos horas trancados dentro do estúdio estudando o roteiro. Isso foi bom. Manter a cabeça ocupada me ajudava a esquecer um pouco os meus problemas. Ficamos tão entretidos com os preparativos para a filmagem que eu e o Rob mal tivemos tempos para comentar sobre a fofoca que haviam publicado de nós dois. Famos rapidamente sobre o assunto, achando muita graça naquele rumor sem fundamento nenhum que haviam inventado. A “imprensa marrom” fazia de tudo para conseguir ibope. Claro que eles não iriam perder a oportunidade de explorar o “chifre” do Rob até a última oportunidade.

No final do dia eu estava exausta, mas feliz. O filme tinha tudo para ficar top!

Olhei no relógio. Era fim de tarde. O ensaio havia terminado bem na hora! Eu tinha pedido para a Monique avisar o Luan por e-mail o horário que eu estaria no hotel para falar com ele pela webcam. Até ali tudo estava saindo como o combinado. Até estranhei algo finalmente dar certo para mim...

– Está tudo bem, Anita? Você está com um jeito meio diferente hoje – O Robert me perguntou enquanto seguíamos juntos até o estacionamento. A Monique já estava no hotel, ela havia desistido de tentar me esperar.

– Está tão evidente assim? – Perguntei me surpreendendo com a observação dele.

– Desculpa, é que eu tenho a mania de tentar ler as pessoas. Aí acabo captando algumas coisas que geralmente passam despercebidos – Ele me explicou mexendo nos cabelos e deixando os fios completamente bagunçados.

– Hum... É, você me leu bem, então. Estou com alguns problemas – Confessei.

– Conte-me mais sobre isso – Ele brincou abrindo um sorriso. Acho que era a primeira vez que eu o via sorrir desde que estávamos trabalhando juntos.

Falei para ele sobre a suposta maldição do pedido de casamento e sobre a maré de azar que vinha atravessando.

– Eu não sabia dessa maldição, mas eu acredito. Sabe, eu pedi a Kristen em casamento antes de tudo acontecer – Ele mexeu as mãos como se quisesse explicar que estava falando da traição – E ela também não aceitou. Bom, aí deu no que deu, né? Por isso eu acredito nessa maldição...

Nós tínhamos acabado de chegar no carro que nos levaria para o hotel. Um motorista já nos aguardava no interior do veículo. Entrei no sedan e fiquei quieta, encolhida no meu canto. O Rob pareceu entender o meu silêncio e não quis continuar a conversa. Seguimos sem falar mais nada. Minha cabeça fervia com todas as possibilidades. Se a maldição existisse de verdade, isso significava que eu estava destinada a perder o Luan?

Corri para o meu quarto assim que chegamos ao hotel. Peguei o elevador e respirei aliviada ao ver a Monique sentada na minha cama, já com o notebook ligado.

– Está na hora! Estou tentando a conexão com o Brasil. A Rafa está ajudando o Luan lá do outro lado – Ela me explicou.

Fala sério, o que uma bronca não fazia com uma pessoa! A Monique estava muito prestativa!

– Ótimo! Poxa, obrigada Monique! Quero muito falar com o Luan – Sentei ao lado dela na cama jogando a minha bolsa de qualquer jeito no chão do quarto.

– Olá gatas garotas! Vocês conseguem me ver e escutar? – A Rafa apareceu na tela do computador.

– Sim, estamos te vendo e te ouvindo! E você? – Perguntamos animadas.

– Tudo perfeito por aqui! Any, o Luan pediu para você esperar apenas um minuto. Ele foi atender uma ligação do pessoal do escritório e já volta. Eu preciso terminar de organizar umas coisas aqui em casa, não vou poder ficar falando com você – Ouvi a minha empresária me avisar.

– Tudo bem Rafa. Ah, desculpa ter te deixando falando sozinha ontem. É que a Monique chegou, e aí eu corri para pegar o celular e ligar para o Lú – Achei melhor explicar a situação, mesmo sabendo que a Rafa me entendia.

– Fica tranquila, eu imaginei que fosse isso. Por isso liguei para o quarto da Monique depois e confirmei com ela se você já estava ligando para o Lú. Bom, deixa eu ir andando. Boa sorte minha garota meteórica. Beijo Monique – A Rafa se despediu sorrindo. Pelo jeito as coisas iam bem com a gravidez.

– Moni, você pode pegar algo para eu comer? Estou morta de fome – Pedi para a minha secretária enquanto eu me ajeitava na cama e colocava o computador em uma posição mais agradável.

– Claro, vou descer até o restaurante para pegar algo. Volto já – Ela disse já caminhando em direção a porta.

– Beleza, traz algo natural, tá? Preciso manter a dieta – Avisei antes que ela deixasse o quarto. A Moni só concordou com a cabeça e saiu apressada.

Olhei para a tela do computador que estava mostrando a sala da nossa casa em Londrina vazia. Senti um aperto no coração ao pensar que iria demorar até eu voltar para a “Toca”.

De repente, outra janela saltou na tela do notebook. Era o Fiuk, me dizendo oi. Nossa, quanto tempo que eu não falava com aquele rapaz.

– Oi, tudo bem? – Digitei sem muito ânimo. Eu queria mesmo era falar com o Luan que ainda não havia dado nenhum sinal de vida. A imagem na janela dele no MSN ainda mostrava a sala da nossa casa vazia.

– Opa! Tudo certo, linda! Tá em Los Angeles com o Robert Pattison, né? – A mensagem do Fiuk apareceu na minha tela. Eu já estava pronta para perguntar como ele sabia daquilo tudo quando lembrei que o mundo inteiro já estava ciente do meu paradeiro por conta da fofoca divulgada no site de fofocas na noite anterior.

– Pois é. Tá bem informado, hein? – Brinquei ainda de olho na janela do Luan que permanecia vazia.

– Você nunca saiu da minha cabeça, Anita Bonita. Sabe, eu sempre quis te dizer isso: Eu sinto muito a sua falta... Queria ter mais uma chance com você! – Li a resposta que o “Playboy” havia acabado de digitar e quase cai para trás tamanho foi o susto que eu levei. Eu sabia que ele alimentava algo especial por mim e me sentia um pouco culpada por ter agendado uma viagem pela Europa com ele e ter desistido antes do embarque por causa do Luan. Mas eu nunca poderia imaginar que o sentimento dele por mim fosse tão forte. Eu sinceramente achava que ele já havia superado o “amor” que nutria por mim.

Respirei fundo e achei melhor “mandar a real” para o “Playboy”. Eu gostava muito dele. Se não fosse o Luan, eu com certeza teria ficado com ele. Mas desde que o “Caipira” surgiu na minha vida eu só tinha olhos para ele. E eu precisava deixar isso bem claro para o Fiuk:

– Fê, eu gosto muito de você. Considero você um ótimo cantor, um ator super talentoso, uma pessoa maravilhosa, o homem que muitas mulheres sonham ter ao seu lado. Também sinto muita a falta dos dias que passamos juntos e, se pudesse escolher, eu tenho certeza que nós dois daríamos muito certo juntos. Mas, infelizmente, eu não posso ficar com você...

Parei de escrever e enviei a primeira parte da mensagem. Respirei fundo e continuei digitando. Aquilo iria doer nele, mas eu precisava seguir em frente.

– Eu não posso ficar com você e com mais ninguém porque o meu coração pertence ao Luan. Desde que eu conheci o Lú eu aprendi o que é o amor de verdade. Ele me faz crescer, ser uma pessoa melhor, me fazer correr atrás do que eu quero, a dar valor para todos aqueles que estão ao meu lado. É por ele que o meu coração bate, ele é quem faz suspirar de paixão e chorar de saudade. Só ele tem o dom de me tirar o fôlego e de fazer as maiores loucuras para ficar ao lado dele. É o Luan quem manda no meu coração. E não tem jeito de mudar isso! Enquanto ele me quiser, eu vou continuar ao lado dele, apaixonada pelo sorriso perfeito que ele tem, disposta a amá-lo a cada dia mais.

Enviei a segunda parte da minha resposta. Era impossível descrever o que eu sentia pelo Lú em palavras, mas eu achava que havia conseguido dar o recado que eu queria em poucas linhas.
Por alguns minutos o Fiuk não disse nada. Fiquei esperando, um pouco apreensiva, que ele tentasse argumentar sobre o meu amor pelo Luan. Mas no final, tudo o que ele declarou foi “Preciso sair Any. Se cuida e fique bem” e ficou offline no Messenger.

Mal tive tempo de respirar aliviada por ele não insistir naquele assunto. Logo depois que o Fiuk saiu do Messenger o Luan me chamou na outra janela.

– “Paxão”, tá aí ainda? – Ele perguntou com aquele sotaque “caipira” que eu amava.

Ele estava lindo, mesmo usando uma camiseta, bermuda e boné e fazendo a linha “largado”. Imediatamente esqueci todos os meus problemas. Agora eu era só dele. E eu estava disposta a aproveitar cada momento daqueles preciosos momentos de felicidade, mesmo que eu só pudesse vê-lo através da imagem de uma webcam.

***
Conversei com o Lú por horas. A Moni voltou com o meu lanche e eu comi ali mesmo, na frente do computador enquanto o Luan tocava violão para mim.

Ela ficou por ali, escutando música com um fone de ouvido e mexendo no seu próprio notebook. Como eu e o Luan não conversamos nada demais, eu não me importei que ela permanecesse no quarto. Na verdade, naquele momento só me importava em ouvir o Lú cantar para mim.

Quando finalmente desligamos, fui direto tomar um banho deixando o meu notebook jogado em cima da cama de qualquer jeito. Eu me sentia mais leve e mais tranquila depois de ter conversado com o meu namorado-barra-praticamente-marido. O medo que eu andava sentindo de perdê-lo me deixou em paz e eu voltei a acreditar que a história da maldição não passava de supertição.

Depois de tomar uma ducha, eu peguei o roteiro do filme e passei a estudar o texto, animada. No dia seguinte teríamos uma leitura geral com todo o elenco, e eu queria estar afiada. Enquanto passava as falas eu checava o meu e-mail de tempos em tempos para ver se o Lú havia respondido a última mensagem que eu tinha enviado para ele. Estranhei ele não ter me retornado, mas tentei não encanar com aquilo. O Luan tinha uma agenda cheia, por isso ele sempre aproveitava os dias de folga para ficar sossegado tocando violão e conversando com os amigos e a família.

Já era madrugada quando eu resolvi ir dormir. Deitei na cama e mal coloquei a cabeça no travesseiro quando o telefone do quarto tocou.

Fala sério, as pessoas tinham o dom de adivinhar as piores horas para ligar, né?

Levantei , acendi a luz e fui atender contrariada.

– Alô – Atendi muito de mau humor.

– Gata garota, abre agora o seu e-mail. E se prepara, vem bomba por aí – Pela voz eu reconheci que era a minha empresária. E pelo seu tom de voz a situação era grave, pois ela falava apressada, atropelando as palavras.

Precisei procurar o meu notebook no meio da bagunça do meu quarto. Quando eu finalmente o encontrei, percebi que ele ainda estava ligado. Eu nem tinha me dado o trabalho de desligá-lo após conversar com o Luan pela webcam.

Abri o meu e-mail e quase sofri um colapso quando cliquei no último link que a Rafa havia me enviado.
Era o endereço do mesmo site de fofoca que havia publicado os rumores falsos sobre mim e o Robert na noite passada.

A notícia dizia:

“Anita Tunice se declara para o ex pela internet
A atriz brasileira, Anita Tunice, continua dando o que falar. A ‘mocinha’ que está em Los Angeles para gravar um filme, foi vista ontem no “maior clima” com o ator Robert Pattison, que será seu par romântico no novo longa.
Hoje a atriz teve uma conversa pela internet com o seu ex, o cantor Fiuk. Pelo MSN a atriz declarou todo o seu amor pelo rapaz e ainda deixou a entender que não ficava com ele porque não tinha opção.
Fontes ligadas à atriz dizem que ela mantém um romance de “faxada” com o cantor sertanejo Luan Santana e por isso ela não teria aceitado o pedido de casamento de seu suposto namorado.
As mesmas fontes afirmam que Anita já está cansada dessa situação e que quer se livrar do sertanejo. As últimas notícias publicadas aqui sobre a atriz confirmam o boato. Será que depois de terminar com o ‘Garoto do Meteoro’ a atriz voltará a ficar com o seu antigo parceiro de trabalho Fiuk?
É esperar para ver”

Precisei sentar para não cair para trás. Eu sentia as minhas pernas bambas e o meu coração disparado dentro do peito.

Logo abaixo do texto estava publicado um “print screen” da janela do MSN que mostrava a minha conversa com o Fiuk que tinha acontecido naquele dia mais cedo. Porém, a imagem só mostrava a primeira parte da resposta que eu havia enviado para o Fê. Ou seja, quem via aquele print lia a conversa só até a parte que eu dizia que gostava muito do Fê e que ficaria com ele se tivesse opção. A parte onde eu havia escrito que amava o Luan foi apagada, fazendo parecer que eu mal tinha tocado no nome do meu namorado-barra-praticamente-marido.

– Anita? Anita? Gata garota, fala comigo! – Eu ouvia a voz da Rafa através do telefone sem fio que ainda estava na minha mão.

– Rafa... – Falei ainda chocada com aquela situação – É agora que o Luan vai pedir o divórcio, antes mesmo de a se gente se casar...

Bufei de raiva. Aquilo só poderia ser culpa da Maldição...

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Notas finais do capítulo: Amores, a história ainda está morna, mas estamos só no segundo capítulo! Paciência ok?
E aí? É possível ter mais azar que a Anita?
Será que o Luan vai perdoar essa?
Quase uma da manhã. Serei breve porque preciso dormir!
Comentem, minhas lindas! Façam essa quase-escritora feliz!
***
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